sexta-feira, 21 de setembro de 2012
Reflexões no sofá azul
Ontem eu tive uma reunião na escola do Vini. Como cheguei um pouco adiantada, fiquei esperando a professora no "sofá azul". Um sofá que fica na porta da secretaria onde somos direcionados sempre que precisamos ir na escola tratar de algum assunto e aguardamos ser atendidos.
Sentada naquele sofá, fiquei lembrando do primeiro dia de aula do Vini, quando eu ficava lá, fazendo a adaptação dele.
Ele foi para escola quando tinha 2 anos e meio. Eu pretendia colocá-lo na escola quando fizesse 3 anos, mas ele começou a sentir a falta de ter amigos e resolvemos antecipar o início de sua vida escolar.
Vini ainda não falava direito, algumas poucas palavras e essa era uma das coisas que mais me preocupava na ida dele para escola. Será que a professora vai entendê-lo? E os coleguinhas?
Quando chegamos lá, já fui colocando para a professora essa minha preocupação e ela, que é uma excelente profissional, me acalmou e falou:
"Fernanda, fica tranquila, vou entendê-lo sim e se eu não entender, ele vai dar um jeito de dizer o que quer. Tenho alunos de 1 ano e meio e eles sempre foram ouvidos e atendidos nas suas necessidades"
(PS: Sim, ela me chamou pelo nome. Nada de mãe, mãezinha, essas coisas. Na escola dele todos são tratados pelo nome).
E virou para o Vini e falou:
"Vinícius, sua mãe e seu pai vão ficar aqui, sentadinhos no sofá azul, te esperando. Se você sentir saudades, a gente vem vê-los. Mas eu te garanto que eles não vão sair daqui."
E lá foi o Vini, uma mão abraçando a lancheira, outra mão segurando a mão da professora e parece que não sentiu saudades, pois não veio nos ver.
A adaptação do Vini foi tranquila, alguns poucos choros. Sempre atracado com a lancheira, que era o porto seguro dele. Ele não a soltava por nada. A lancheira era o elo de ligação dele com o seu mundinho extra escola. Aos poucos ele foi conseguindo deixá-la no "canto da lancheira" e viver sua vida escolar.
A minha adaptação foi sofrida. Era como se somente ali o cordão umbilical estivesse sendo cortado.
Enquanto eu ficava ali, no sofá azul, o Vini não era mais só meu, naquele momento ele passou a ser também do mundo.
E ontem, enquanto eu ficava esperando a professora, no mesmo sofá azul, ficava pensando em tudo isso, em como a vida do Vini mudou. Ele rapidamente aprendeu a falar. Começou a enfentar seus medos. Já criou suas amizades, escolhidas por ele mesmo e não mais consequências das minhas amizades. Aprendeu que o mundo não gira só em torno dele, mas que tem outras pessoas que também precisam de atenção. Aprendeu muitas outras coisas que eu ainda nem imagino.
E eu aprendi, embora ainda me doa muito, que meu filhinho não pode viver só embaixo da minha asa. Precisa criar suas próprias asas e alçar seus vôos.
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